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Vargas
tesouras de pai para filho
Negócio da família com barbearias começou há 76 anos, quando Dorvalino Vargas abriu loja no Estreito
Jeferson LimaHá quatro gerações a família Vargas faz o cabelo e a barba dos moradores da Grande Florianópolis. O pioneiro da profissão na família é Dorvalino Vargas, que abriu a primeira barbearia Vargas em 1925, na rua Geral do Estreito, atual Fúlvio Aducci. Hoje a família está estabelecida em cinco endereços: ruas Jerônimo Coelho, Bocaiúva e Travessa Carreirão, no Centro, e nos bairros Estreito e Córrego Grande. Dorvalino teve nove filhos, sete homens e duas mulheres. Todos os homens, Vanderlei, Valdir, Nelinho, Indalécio, Eloí, Valdenir e Valter, seguiram a profissão de barbeiro.
Integrante da segunda geração, Valter está com 54 anos e atua na barbearia da rua Jerônimo Coelho. Trabalha acompanhado dos sobrinhos Indalécio Júnior, 26 anos, e Siverino, 41, o "Ia". Valter está ali desde que a loja foi aberta, em 1961. Tinha então 14 anos de idade, e foi trabalhar com os dois irmãos mais velhos, na época com idades de 19 e 25, e hoje já falecidos. A barberia foi aberta com o nome de Salão Royal, mas prevaleceu o nome da família para identificar o lugar.
TESTEMUNHA DA CIDADEValter recorda da cidade dos últimos 40 anos. Do local de trabalho, ele viu os edifícios surgirem, e relembra especialmente do Miramar, bar-trapiche que ficava na praça Fernando Machado, derrubado em 1974 com o aterramento de parte da baía Sul e onde hoje há um monumento à edificação. Foi com os dois irmãos que o jovem Valter aprendeu a lidar com as tesouras. Durante as quatro décadas que trabalhou nesse endereço, deixou a profissão de barbeiro várias vezez e foi dono de restaurante, bar e padaria ,e durante um período, foi também garçom, mas sempre voltou ao ofício diante do espelho.
"Agora tô tratando de me aposentar", diz ele, que é casado e tem um casal de filhos. O sustento da mulher e dos filhos foi realizado essencialmente da profissão da família. Valdir nasceu na avenida Mauro Ramos, em frente à praça do "banco redondo" e é Figueirense de coração. "Ninguém é perfeito", brinca o sobrinho Indalécio Júnior, torcedor do Avaí. A paixão de Valdir pelo alvinegro do Estreito tem ainda outras razões, ele nasceu em 12 de julho de 1947, dia de aniversário do clube, fundado em 1921.
Quem aparece na barbearia Vargas da Jerônimo Coelho nas sextas e sábados é Valdir Vargas, 74 anos, um dos sete filhos de Dorvalino. Nesses dois dias, ele substitui Valter, e arruma assim alguma distração, além de melhorar o rendimento de sua aposentadoria.
TOQUE FEMININOOutra barbearia da família está localizada na rua Bocaiúva, em frente ao shopping Beiramar. O proprietário é Jurandir, 55 anos, sobrinho de Valter, que é quase dois anos mais jovem do que ele. Valter é filho temporão de Dorvalino, nascido em 1903, que teve este último filho aos 44 anos. Dorvalino, o fundador do negócio dos Vargas não teve outra profissão na vida. Trabalhou no Estreito, depois na rua Ferreira Lima, e por último na avenida Mauro Ramos, onde teve sua última barbearia
Jurandir, da terceira geração - para não fugir à regra - também aprendeu a profissão com o pai, Vanderlei, que abriu sua barbearia há 69 anos na rua Demétrio Ribeiro, na subida do morro do céu, ou morro da Avaí, nas imediações do shopping Beiramar, onde funcionou por 44 anos. É a mais antiga em funcionamento na cidade e depois mudou para a rua Bocaiúva onde está com as portas abertas há 25 anos. Há três semanas, esta loja mudou para uma sala mais espaçosa, na mesma rua e a menos de 50 metros do endereço anterior.
Quem cuida da barbearia da rua Bocaiúva é o filho de Jurandir, Rafael, 27 anos, da quarta geração dos barbeiros Vargas. Aprendeu a profissão com o pai. Jurandir é sócio da barbearia da Bocaiúva, mas abriu um novo ponto, na Travessa Carreirão, que liga a própria Bocaiúva à avenida Beira-mar Norte. No novo local de trabalho, Jurandir divide o negócio com a filha Simone, de 30 anos. Simone é a única das mulheres da família que seguiu a profissão.
Ao contrário da maioria das barbearias Vargas, que trabalham tradicionalmente com o corte de cabelo e barba, a loja da travessa Carreirão aposta também no público feminino, oferecendo serviços de maquiagem, tintura de cabelo e escova. O habitual assunto das conversas de barbearia, que prima por temas sobre política, futebol e mulher, ali adquire outras tonalidades e o repertório dos diálogos é também de natureza feminina.
TRADIÇÃO
A partir da foto maior, ao alto, no sentido horário, Rafael, seu pai, Jurandir, e Valter, descendentes de Dorvalino Vargas, pioneiro no ramo de barbearia entre a família. Abaixo, vista do interior da barbearia Vargas da rua Jerônimo Coelho, que funciona há 40 anos no mesmo local
Fotos: James Tavares
Sepultado no Cemitério São Francisco de Assis, Florianópolis, Livro 43, Sepultamento 42514, quadra 46, sepultura 0003
A LEI da Prefeitura Municipal de Florianópolis, Nð 3652, de 02.12.91, denomina rua Maria da Graça Carpes via pública na Capital.